quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fagiolina del Trasimeno

Se vc olhar ele assim prontinho, nao terà duvida em afirmar que seja um feijao.
Tb por causa, e é obvio, de seu nome: "fagiolina del lago Trasimeno", que vem a ser uma variedade local dos conhecidos "feijoes dall occhio" (Vigna unguiculata). Sendo, por sua vez, uma espécie originaria da Africa e que era muito apreciada pelos etruscos.
E que, depois, foi difusa em toda a peninsula italica pelos romanos, se tratando do tal de “phaseolus” que muitas vezes citou Plinio il Vecchio.
Cultivada desde os tempos "perdidos na memoria" em torno ao Lago Trasimeno (Perugia), onde nos terrenos de fundo de vale, mais umidos, se encontra o solo ideal para se obter um produto de boa qualidade.
Mas nao sendo aquilo que parece, tb nem tem "os efeitos colaterais" que o mm possa provocar...hihihi.
Pq trata-se de um legume que, definitivamente e cientificamente, nao pertence à familia dos feijoes.
Que se saiba, foram mesmo os etruscos que começaram o seu cultivo nas colinas adjacentes ao lago, que se situa no norte da Umbria, perto dos confins com a Toscana.
Lago este que para quem se lembra das Guerras Punicas e de Anibal (aquele general de Cartago que atravessou os Pirineus, e tb os Alpes e os Apeninos, com os seus elefantes), que com seu imenso e heterogeneo exercito, dizimou dezenas de milhares de soldados romanos, e teve as suas aguas tingidas de sangue, vai saber logo de que lago estou falando!...
Afinal, foi a mais famosa batalha que os cartagineses desferraram contra a entao republica, de Roma. Naquilo que foi uma queda de braço para se controlar todo o mediterraneo e grande parte do mundo, até entao, conhecido.
E, em um outro parenteses, tb é o unico grande lago, no mundo, que funciona como uma cisterna de aguas pluviais e de degelo, as quais recolhe, nao tendo nenhuma nascente que o alimente. E até tem 3 ilhas, bem grandinhas, sendo que uma delas é habitada e uma, outra, um belo parque.
Os romanos apreciavam muito o lago, e em todos os sentidos, tendo feito uma senhora dragagem nele, para livrar-lo dos sedimentos que lhe diminuiam a profundidade.
Pq os romanos eram tb os reis da hidraulica, e faziam coisas que, hoje, ainda é dificil de se acreditar.
Em um passe de magica, controlavam cascatas, desviavam rios, faziam a agua chegar em lugares impossiveis e enchiam piscinas lindissimas e enormes cisternas subterraneas com agua doce. E nem falemos do sistema para rescaldar estas aguas e de como recolhiam os esgotos em todos os seus ensediamentos, pq ai isto aqui nao teria mais fim...
Basta sò lembrar que, no principio, a base do proprio Coliseu se transformava em um enorme tanque, onde ocorriam pseudo batalhas navais, em um quase piscar de olhos...!
Ou que a famosa Fontana de Trevi ainda funciona com uma infra estrutura que tem, cerca, os seus 2000 aninhos...
Enfim, explanaçoes a parte, este legume é plantado ali , vizinho ao lago, desde tempos imemoraveis.
Como é de dificil cultivo, e por isto nao comercial, nao é facil de se achar, é caro e, acima de tudo, seria como comer uma coisa de museu.
Plantaçao toda artesanal, até a sua cultura é feita como se fazia um tempo, milhares de anos faz.
Mas vale à pena pq de um gosto delicado, qdo ai se percebe ser um legume, com uma textura muito agradavel, tb.
Aqui em casa, que conseguimos compra-lo através de um amigo que tem seus "conhecimentos", aparece esporadicamente na nossa mesa.
E eu costumo fazer, exatamente, como se fosse feijao mm, sò nao exagerando no caldinho.
Comer uma coisa assim é como se viajar no tempo, dividindo a nossa mesa com o grande Anibal e um bom guizadinho de legume quentinho, antes que ele se metesse a estudar as suas estratégias geniais!

Um comentário:

Dani Rollemberg & Rosa Benvenga disse...

Adoro a cultura geográfica, histórica e gastronomica do seu blog.
Não me canso de passar por aqui e beliscar um pouquinho dos sabores da Itália.